O megalitismo funerário em Portugal: o estado da questão (1)

A evolução do megalitismo funerário tem passado, na maior parte dos casos, pelo estudo de arquitecturas vs espólios, face à inexistência de datações absolutas, sobretudo para as arquitecturas que tenho vindo a considerar como as mais antigas – as pequenas sepulturas protomegalíticas, abertas ou fechadas - (Rocha, 1999; Rocha, 2005).

De Norte a Sul de Portugal, vários têm sido os trabalhos realizados neste tipo de monumentos e que têm vindo a aportar dados que ou atestam, ou parecem contestar, este modelo.

Apesar de ser um tema que poderá nunca vir a ser cabalmente esclarecido (ou talvez seja...com os dados das intervenções que se têm vindo a realizar no Alentejo, uma vez que existem vários monumentos com restos osteológicos preservados), algumas considerações são possiveis, no actual estado dos nossos conhecimentos...

1- Algarve 
Em meados dos anos 50 do século XX, foram intervencionados um conjunto de pequenos monumentos megalíticos funerários, na serra de Monchique. Com espólios antigos, onde predominavam os micrólitos geométricos, estas sepulturas pareciam apontar para a fase mais antiga referida pelo Prof. Manuel Heleno nas suas aulas na Faculdade de Letras de Lisboa, uma vez que não existiam, à data, dados publicados por este investigador.

Mas os arqueólogos que as escavaram, perante a diversidade existente e a aparente miscelânea de espólios vs arquitecturas preferiram manter uma posição mais neutra, não assumindo cronologias para os monumentos com espólios manifestamente mais antigos - os machados de secção arredondada, os geométricos e escassez (ou mesmo ausência nalguns casos) de cerâmicas - nem para os que continham espólios mais tardios, como as placas de xisto e os braçais de arqueiro (Viana et al., 1954).

Apesar de estes dados terem sido revistos, anos mais tarde, pelo Prof. Victor Gonçalves (Gonçalves, 1989), tendo este investigador assumido, de forma cautelosa, que alguns dos monumentos continham espólios mais arcaicos que poderiam remeter para contextos mais antigos, o modelo da evolução do megalitismo no Algarve (e em Portugal) manteve-se em aberto, perante a ausência de datações absolutas.
























Plantas de alguns dos monumentos de Monchique (seg. Ferreira et al., 1954, adaptado).

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